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Coletânea: Sambas sobre a Praça Onze

, 78 rpm

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(Acompanha arquivo com as letras)
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“…As Tias Baianas eram os grandes esteios da comunidade negra, responsáveis pela nova geração que nascia carioca, pelas frentes do trabalho comunal, pela religião, rainhas negras de um Rio de Janeiro chamado por Heitor dos Prazeres de “Pequena África”, que se estendia da zona do cais do porto até a Cidade Nova, tendo como capital a praça Onze…”
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Trecho do livro “Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro” de Roberto Moura
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No começo do século 19 a tão cantada Praça Onze era ainda conhecida como Rocio Pequeno, um lugar baldio e desabitado que os moradores costumavam usar como um grande depósito de lixo. Quando D, João VI transferiu sua residência para a Quinta da Boa Vista, na região de São Cristóvão que àquela época ficava bem além dos limites da cidade, o trajeto entre a localidade e o centro do Rio era feito apenas de barco e bastante demorado. D. João mandou então aterrar uma área pantanosa e construiu uma estrada que ligava as duas regiões e diminuia consideravelmente o trajeto. A estrada era inicialmente conhecida como “Caminho do Aterrado”. Logo recebeu iluminação extensiva e vigilância e passou a ser chamada de “Caminho das Lanternas”.

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A população era incentivada a construir ao longo da estrada, ganhando isenção de impostos. Quanto maior a construção, que deveria manter os padrões de elegância da cidade, maior o desconto. Assim, grandes casas e sobrados foram sendo construídos, o numero de habitantes cresceu e rapidamente se instalou ali um pequeno distrito urbano, a “Cidade Nova”. E o largo do Rocio Pequeno tornou-se o centro comercial da Cidade Nova. Com a vitória da marinha brasileira na Batalha do Riachuelo em 11 de junho de 1865, o largo do Rocio é rebatizado e passa a se chamar Praça Onze de Junho.
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Após a abolição da escravidão em 1988 a população de niveis sociais mais altos abandona a Cidade Nova, mudando-se para a Zona Sul. Como a região era próxima da zona portuária e do centro do Rio, tinha bons transportes coletivos e uma boa estrutura urbana, rapidamente os grandes casarões da Cidade Nova foram tomados por ex-escravos, boa parte deles vindos da Bahia e das fazendas do Vale do Paraíba. Essas comunidades se estabeleceram ao redor da Praça Onze, transformando aquela região no que se pode chamar de primeiro gueto negro no Rio de Janeiro, que mais tarde seria batizado por Heitor dos Prazeres como a “Pequena África”.

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Samba na Praça Onze
Antônio Fontes Soares
Intérprete: Jamelão, 1958
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Praça Onze, 
Tens um passado de glória
Canto em memória dos sambistas de outrora
Quando ouço o toque dos tamborins nas favelas
Lembro do grande sambista, nosso Paulo da Portela
Em memória vou cantando relembrando o bacharel
Que é o nosso saudoso Noel
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Já estão glorificados, todos cobertos de glória
Os sambistas falecidos que no cenário do samba 
Tem seu nome na história
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A Praça Onze foi um dos maiores e mais importantes redutos que o samba carioca já teve. Alí viveram as famosas “Tias Baianas”, que cediam suas casas para que o samba, mal visto pela sociedade e perseguido pelo polícia, pudesse ser cantado ao som de prato e faca por bambas como Pixinguinha, Donga, João da Baiana… O próprio João da Baiana fala sobre a época:
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As nossas festas duravam dias, com comida e bebida, samba e batucada. A festa era feita em dias especiais, para comemorar algum acontecimento, mas também para reunir os moços e o  povo “de origem”. Tia Ciata, por exemplo fazia festa para os sobrinhos dela se divertirem. A festa era assim: baile na sala de visitas, samba de partido alto nos fundos da casa e batucada no terreiro. A festa era de preto, mas branco também ia lá se divertir. No samba só entravam os bons no sapateado, só a “elite”. Quem ia pro samba, já sabia que era da nata. Naquele tempo eu era carpina (carpinteiro). Chegava do serviço em casa e dizia: mãe, vou pra casa da Tia Ciata. A mãe já sabia que não precisava se preocupar, pois lá tinha de tudo e a gente ficava lá morando, dias e dias, se divertindo. Eu sempre fui responsável pelo ritmo, fui pandeirista. Participei de vários conjuntos, mas era apenas para me divertir. Naquele tempo, não se ganhava dinheiro com samba. Ele era muito mal visto.
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Foi na Praça Onze que o carnaval ganhou forças e se tornou uma festa dos Ranchos e mais tarde das Escolas de Samba. Durante dez anos a Praça Onze foi palco dos desfiles das escolas cariocas. Lá se encontravam os bambas do Estácio, da Favela, Mangueira, Salgueiro, Oswaldo Cruz…
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Nessa época ninguém podia imaginar as proporções que essa festa alcançaria. Era quando se desfilava no cordão, com não mais que trezentas pessoas (quando a escola era muito grande) todas cantando em coro o samba e os versadores da escola mostravam como se improvisava, só no gogó.
Tempos de Paulo da Portela, Ismael Silva e outros grandes líderes que dava a vida por suas escolas e faziam samba por amor, bem diferente dos dias de hoje.
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Em 1942 a Praça Onze foi demolida, dando lugar à Avenida Presidente Vargas. Foi-se o berço do samba, mas sua história ficou eternizada em dezenas de sambas compostos nos anos 40 e 50. Reuni alguns deles pra vocês ouvirem e relembrarem os tempos de ouro das escolas de samba e do carnaval carioca!
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(Acompanha arquivo com as letras)

 

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Comentários
Marcelinho de Madureira

Que saudade gostosa de um tempo que não vivi,ainda bem que o Sambódromo é encravado na pç onze e serve de testemunha de toda essa história!

Marcelinho de Madureira

Que saudade gostosa de um tempo que não vivi,ainda bem que o Sambódromo é encravado na pç onze e serve de testemunha de toda essa história!

Marcelinho de Madureira

Que saudade gostosa de um tempo que não vivi,ainda bem que o Sambódromo é encravado na pç onze e serve de testemunha de toda essa história!

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