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Entrevista com Carlos Cachaça, o eterno poeta de Mangueira

, Carlos Cachaça

Há exatos 108 anos (03/08/1902) nascia Carlos Moreira de Castro, o Carlos Cachaça, tão falado mas pouco conhecido… Grande compositor, autor de sambas consagrados na Estação Primeira, em lindas parcerias com Cartola… Deixo aquí uma homenagem a esse senhor que nos deixou em 1999, aos 97 anos: uma entrevista concedida ao Sérgio Cabral publicada no encarte do disco “A História das Escolas de Samba, vol. 3” no início da década de 70.

Um registro raro e de grande valor para a história do samba, em que o compositor fala dos “tempos idos, mas nunca esquecidos” em que praticamente viu o morro e o samba nascerem e ajudou a consagrar sua escola como um dois maiores celeiros de bambas do Rio de Janeiro, ao lado de Cartola, Nélson Cavaquinho, Zé Espinguela e outros bambas da Estação Primeira…

Salve Carlos Cachaça!

Carlos Cachaça, qual e o seu nome?

Carlos Cachaça — Carlos Moreira de Castro.

Onde e quando você nasceu?

Carlos Cachaça —Aqui mesmo em Mangueira, no dia 3 de agosto de 1902.

Por que os seus pais vieram morar em Mangueira?

Carlos Cachaça —Meu pai era funcionário da Central do Brasil. A Leopoldina construiu várias casas para os seus funcionários aqui em Mangueira e alguns funcionários da Central da Brasil tiveram o direito de morar nelas tambem.

Mas as casas não eram no morro.

Carlos Cachaça —Não, eram embaixo, ao lado da linha do trem. Depois é que vim morar no morro, com o meu padrinho, Tomás Martins, que foi o fundador do Morro de Mangueira. Pouca gente sabe disso.

Com que idade você estava quando foi morar no morro?

Carlos Cachaça — Oito anos. Meu padrinho era um português que tinha casas na morro e alugou. Os terrenos eram do Saião Lobato, mas quem construiu as primeiras casas foi ele. A hist6ria não conta isso, não sei por que. O fundador da Favela de Mangueira foi meu padrinho, Tomás Martins.

Eu não sabia disso, não.

Carlos Cachaça — Deu-se até uma história interessante. Ele não sabia ler e eu, com dez anos de idade, é que assinava os recibos dos aluguéis. Isso era proibido, mas era eu que assinava: “por Tomás Martins, Carlos Moreira de Castro”. Há pouco tempo, uma senhora de uns noventa anos falou comigo que encontrou nos velhos papéis da casa dela uns recibos desses assinados por mim.

Ele vivia dos alugueis?

Carlos Cachaça — Não, ele tinha negócio de transporte. As primeiras casas foram alugadas para os empregados dele. Aqui não havia rua, havia um caminho. E um pasto para bois, cavalos, etc. Ele até ajudou a alargar o caminho pra que as suas carroças passassem. Eram carroças puxadas a burro.

E nos dias de carnaval, como era a Mangueira?

Carlos Cachaça — Bem, o primeiro grupo carnavalesco do morro foi um rancho chamado Pérolas do Egito. Não era um rancho muito numeroso porque a população daqui era pequena. Mas eu me lembro que havia bons cantores no rancho.

Que tipo de musica que era cantada pelo rancho?

Carlos Cachaça — Eram marchas de rancho, mesmo.

E havia samba no morro?

Carlos Cachaça — Não. Quem trouxe o samba para Mangueira foi Eloy Antero Dias.

Como foi que aconteceu isso?

Carlos Cachaça — O Eloy era de Dona Clara, lá em Mangueira. Ele aparecia aqui no rancho Pérolas do Egito e cantava um samba que eu nunca mais me esqueci:

O Padre diz
Miseré
Misereré Nobis

O resto eram improvisos:

Amanhã vou na casa de Tia Fé
Vou tomar café

Eram coisas assim. Me lembro que Mano Eloy cantou pela primeira vez na casa de Tia Fé, que era avó do Sinhozinho, atual presidente da nossa Estação Primeira de Mangueira. O samba começou na casa de Tia Fé, depois é que foi para o Buraco Quente, onde foram fundados depois dois ranchos. Não eram bem no Buraco Quente. Um era lá em cima, na casa da Santinha e o outro no Buraco Quente chamado Guerreiros da Montanha. Não era bem um rancho, era um cordão.

Em que época que havia esses ranchos em Mangueira?

Carlos Cachaça —1910. Me lembro por causa da revolta do João Cândido na Marinha. Mais tarde é que surgiu o Príncipe da Floresta, tambem um rancho que era chamado no início de Príncipe das Matas.

Quem fundava esses grupos em Mangueira?

Carlos Cachaça — Eram as famllias, eram grupos familiares. Eram os chefes das casas que criavam.

Foi Tia Fé que fundou a Perolas do Egito?

Carlos Cachaça — Foi.

Como é que ela era?

Carlos Cachaça — Era uma crioula, tipo baiana. Aliás, não era baiana, era mineira. Mas se vestia com roupa de baiana. Ela andava assim diariamente.

O que é que Mano Eloy vinha fazer aqui?

Carlos Cachaça — Ele tinha uns amigos na Mangueira, a Tia Fé, o pessoal. E vinha sempre com seus amigos de Dona Clara, como o Pedro Moleque, Pedro Lambança e outros. Na época, depois do Estácio, era em Dona Clara que havia os melhores elementos de partido alto. Os grandes sambistas da época eram de lá e do Estácio.

Em Mangueira, quais foram os primeiros?

Carlos Cachaça — Bem, aqui foram surgindo aos poucos. O Artur e o Antonico, por exemplo, começaram um pouco depois. O Antonico foi o primeiro camarada que vi botar segunda parte no samba.

O Artur e o Antonico vieram de onde?

Carlos Cachaça — Do Estácio.

Chegaram depois de você em Mangueira?

Carlos Cachaça —Muito depois. Quando chegaram,eu já era homem feito. Eram quatro irmãos: Artur, Rubens, Antonico e Saturnino.

O Saturnino Gonçalves, primeiro presidente da Estação Primeira?

Carlos Cachaça — Ele mesmo. Eram todos irmãos.

Muito antes de surgir a escola de samba já havia bastante samba aqui em Mangueira, não havia?

Carlos Cachaça — Havia, sim. Depois o negócio foi tomando corpo. Aqueles blocos todos que foram nascendo, cantavam samba. Tia Fe, Tia Tomásia, Mestre Candinho, todos tinham o seu bloco. Eram blocos familiares.

Você saía naqueles blocos?

Carlos Cachaça — Saía. Eu tinha uma fantasia de Cabocla Caramuru. Era um saiote branco, com uma cruz encarnada no peito, outra nas costas, um capacete com três penas e saía por aí. Eu tinha uns 12 anos na época. Saía em todos. Nos Guerreiros da Montanha, no Trunfos de Mangueira, em todos. Me lembro bem da fantasia. Era de morim. Tinha também um arco e um escudo e um machadinho.

Daqui da Mangueira, qual foi o primeiro a fazer samba?

Carlos Cachaça — Fui eu. Me lembro até de um samba meu que falava do pessoal do morro:

Que harmonia
Lá em Mangueira
Que dá prazer
Para se brincar
O Laudelino
No seu cavaco
Fazendo coisas de admirar
E de repente forma o enredo
Que até causa sensação
O Armandinho chega de flauta
Alípio sola no violão
Falta o Otávio
Que não falei
Falta Aristides, falta Martins
Falta Simão
Na mesa de Umbanda
Falta Pedrinha no tamborim
Que harmonia lá em Mangueira
Que dá prazer para se brincar

E ia por aí. A gente ia improvisando, de maneira que não me lembro de tudo.

Você se lembra mais ou menos da época desse samba?

Carlos Cachaça — 1923, 24, par aí.

Você começou a fazer samba em Mangueira antes do Cartola, portanto?

Carlos Cachaça — Comecei. O Cartola começou depois. Antes da turma toda, do Artur, do Antonico, do Gradim, éramos eu e o Cartola.

Mas na época da fundação da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira você não estava presente.

Carlos Cachaça — De fato, não estava, não. Eu estava morando fora. Mas logo depois voltei para a Mangueira.

A partir de quando que você foi descoberto como compositor pelos jornais?

Carlos Cachaça — Bem, no carnaval de 1934, eu fiz aquele samba Homenagem, considerado o primeiro samba-enredo. Quando entrei num concurso de compositores de escolas de samba, quatro anos depois, em 1938, promovido pelo jornal A Pátria, ganhei justamente com aquele samba. Eu fazia uns sambas patrióticos — Pátria Querida, por exemplo — que provocavam um certo comentário, de maneira que meu nome ia se espalhando por ai. Tem outra coisa que muito pouca gente sabe: o primeiro pandeiro oitavado quem fez foi o Arturzinho, aqui de Mangueira. Ele trabalhava no Arsenal de Marinha, de maneira que tinha facilidade com oficina, essas coisas.

Você também freqüentava a casa do Zé Espinguela ?

Carlos Cachaça — A casa dele no Engenho de Dentro? Freqüentei muito.

Você estava na casa dele quando foi feito aquele concurso entre compositores?

Carlos Cachaça — Estava. Quem ganhou foi o Heitor dos Prazeres. Depois fizeram um outro concurso na Cachopa, que era uma espécie de gafieira que o Eloy Antero Dias tinha lá em Madureira. Não me lembro como foi que terminou, não. Me lembro que a Mangueira ia ganhar, houve uma confusão danada, até briga.

O Eloy estava em todas, hem!

Carlos Cachaça — Ele era um cara muito importante na historia do samba. É uma pena que é pouco lembrado.

Antigamente, quando as escolas de samba não tinham microfones, havia uns cantores de vozes muito fortes que puxavam a samba no meio da multidão. Na Mangueira, quem eram esses caras?

Carlos Cachaça — Acho até que a Mangueira foi a primeira a ter esses cantores, esses tenores. Tinha o Malvadeza, o Alfredo Turi-Turé, o Zé Casadinho, o Fiúca, cada cantor que valia a pena ouvir.

Esses cantores geralmente eram encarregados também da improvisação no tempo em que os sambas não tinham segunda parte. A escala toda cantava a primeira parte e depois eles improvisavam. Os cantores de Mangueira eram bons improvisadores?

Carlos Cachaça — Eles eram ótimas improvisadores. O Fiúca e a Zé Casadinho eram os príncipes da improvisação.

Você chegou a ocupar postos de direção na Estação Primeira?

Carlos Cachaça — Cheguei. Fui vice-presidente no tempo do Barra Mansa.

O Barra Mansa foi presidente?

Carlos Cachaça — Foi. Ele era dono de um armazém aqui em Mangueira. Ele agora é falecido. O nome dele era Alberto Francisco do Nascimento.

Quais eram o mestre-sala e a porta-bandeira da Mangueira na fundação?

Carlos Cachaça — Arlindo e Raimunda. Depois do Arlindo é que veio o Marcelino, o Maçú.

Qual é a diferença da dança do mestre-sala e da porta-bandeira de antigamente para os de hoje?

Carlos Cachaça — Antigamente havia mais cadência. A coreografia era mais armada, mais estudada. Hoje, os passos são mais improvisados. Você pode ver que hoje dificilmente o individuo repete o passo anterior. É quase tudo inventado. Antigamente, não. O camarada tinha que saber o tempo, por exemplo, que ele tinha que fazer determinada coisa enquanto a parta-bandeira rodava para que, quando os dois voltassem a se juntar, estivesse tudo direitinho Era tudo dentro da cadência. Era como se houvesse uma coreografia escrita. Isso tudo era levado em conta porque, mesmo quando não se julgava o mestre-sala e a porta-bandeira, eles eram vigiados pelo pessoal da casa. Os críticos eram os companheiros da própria escola.

Quais eram os maiores mestres-salas de antigamente?

Carlos Cachaça — Havia o Buldogue, da Saúde, e o Getulio “Amor” Marinho, de Bento Ribeiro. O Buldogue era um mestre-sala que fazia um passo aqui e ia repeti-lo lá em baixo. Era muito cadenciado. Ele conhecia os passos do mestre-sala.

Você freqüentava também os outros redutos de samba ou só ficava pela Mangueira mesmo?

Carlos Cachaça — Puxa, eu vivia na Vizinha Faladeira, Salgueiro, Estácio, em todo lugar! Quantas vezes eu dormi no Morro do Salgueiro, na casa do Calça Larga, do Gargalhada, do Buruca! Você sabe que eu ia comemorar lá as vitorias da Mangueira? Enchia a cara e ia pro Salgueiro ou para outro lugar. Na Portela, mesmo, eu fiquei lá muitas vezes. Noutro dia mesmo, o Betinho, que é detetive, estava lembrando esse tempo. Eu vivia em tudo que é lugar, nunca houve confusão comigo. Quando venci o concurso de samba, em 1938, fui festejar no Tuiuti.

Mas você não defendeu a Mangueira?

Carlos Cachaça — Defendi, mas fui beber no Tuiuti. Fiquei lá até as nove horas da manhã. Não tinha negocio de matar, de morrer, não tinha nada disso.

Quais eram os camaradas bacanas de antigamente, camaradas que te dão saudade?

Carlos Cachaça — Fora da Mangueira? Ah! Tenho que destacar muitos. O Antenor Gargalhada, do Salgueiro, por exemplo. O Paulo da Portela, o Buruca, o Vadinho do Tuiuti, grande compositor. Ninguém fala no Vadinho, Ele tem obras importantíssimas, nunca gravaram um samba desse rapaz, nunca falaram dele.

Ele está vivo?

Carlos Cachaça — Está. Ele tem cada samba lindo! Sabe que uma vez na Praça Onze a Mangueira parou de cantar o samba dela para cantar o samba dele? O samba que ele fez para o Tuiuti foi cantado pela Mangueira! Um camarada de Mangueira que tenho saudade é o Gradim. Era um camarada fenomenal. Ele tomava umas canas muito boas! Na época da maré braba, a gente saia por aí para vender samba. O Baiaco era o secretário do Francisco Alves e era a encarregado das compras de samba. Tudo que era do Gradim, ele comprava. Era tudo bom! O Francisco Alves ficou com não sei quantos sambas do Gradim sem gravar. Às vezes, os sambas dele só tinham a primeira parte e ele me pedia para colocar a segunda. A gente saia andando aí por dentro, tomando umas canas, até o Estácio, onde morava o Baiaco. Quando chegávamos lá, a segunda parte do samba estava pronta.

O próprio Baiaco pagava?

Carlos Cachaça — Ele mesmo. Depois o Francisco Alves reembolsava.

Como é que foi o concurso que você venceu?

Carlos Cachaça — O jornal A Pátria publicava um cupom com a pergunta: “Qual é o melhor compositor de escola de samba?” Os fãs dos compositores ou a própria escola a que ele pertencia recortavam, preenchiam e enviavam para a redação do jornal. Os dez mais votados seriam escolhidos para disputar a final na feira de Amostra. Na época em que eu fui candidato houve uma briga na Mangueira entre o Pedro Palheta e outros diretores.

O Pedro Palheta já era o presidente?

Carlos Cachaça — Era. Por causa disso, a escola não mandou os votos que eram para mim. Mas o diretor do jornal, o Antenor Novaes percebeu isso. É que o Pedro Palheta viajou e levou os meus votos todos. O Antenor deu uma ordem: a Mangueira não pode faltar ao concurso, foi aquele negocio de recortar votos pra mim dentro da redação. Recortavam para eu ser um dos dez primeiros e entrar no concurso da Feira de Amostras. Fui o décimo mais votado.

E no dia do concurso?

Carlos Cachaça — Não foi ninguém da Mangueira. Nem da diretoria, nem compositores, nem nada. Nem Cartola, nem Aloísio, ninguém. A Feira de Amostra estava lotada, pois a entrada era gratuita. E estavam concorrendo comigo todos os cobras das outras escolas de samba. E não havia microfone, era só na acústica. Eu com essa vozinha, como é que eu ia fazer? O Eloy ainda fez campanha contra mim. Toda a vez que a gente se encontrava, depois, eu falava com ele: “você me envenenou perante a comissão, hem!” Isso acabou se transformando em brincadeira nossa, nós éramos muito amigos.

O que foi que ele fez?

Carlos Cachaça — Ele comentou com o pessoal da comissão que eu estava bêbado. E eu não tinha bebido nada! Mas eu peguei uns poucos mangueirenses que havia por lá e fui pedindo pra me ajudar. Peguei o Babaú, compositor, e pedi a ele pra me acompanhar no cavaquinho. Peguei o Pelado, compositor…

O Pelado, esse que ainda está na Mangueira?

Carlos Cachaça — Ele mesmo. O Pelado é velho, o que é que você está pensando? Ele tem mais de 60 anos. Naquela época era ainda um rapazinho. Peguei também alguns camaradas de outros lugares e pedi pra me ajudar cantando comigo. Apresentei Homenagem, o samba que a Mangueira cantou no carnaval de 1934.

E o resultado, como foi?

Carlos Cachaça — Eu fui o último a cantar. Fui muito aplaudido, mas o máximo que eu sonhava era um sétimo lugar. Não podia vencer aqueles cobras, nas circunstâncias em que me encontrava. Depois que cantei, veio o resultado. Os classificados eram apresentados na ordem decrescente. Décimo lugar, Fulano. Pensei: sou o nono. Não tenho nem dúvida. Nono lugar, não sei quem lá do Salgueiro. Então, o oitavo lugar seria meu. Oitavo lugar era outro. Desconfiei que fosse ficar em sétimo, mas o sétimo também era outro. E assim foi. Quando anunciaram o sexto lugar já me considerei vitorioso. Chegar em quinto lugar naquela situação para mim já era uma vitória. Mas não fui o quinto também. Quando anunciaram o Maurilio do Tuiuti em segundo lugar, eu quase desmaiei. O Maurilio era favorito pela samba e pela voz. A letra do samba dele era até do Vadinho. Mangueira ganhou!

E você sozinho sem ninguém da Mangueira.

Carlos Cachaça — Foi mesmo. Só o Babaú no cavaquinho e o Pelado no pandeiro. Os outros todos organizados, com conjunto e tudo. A Portela toda muito bem vestida, na moda, com elegância.

O Paulo era muito exigente com a roupa.

Carlos Cachaça — Se era! Tinha até polaina!

Polaina?

Carlos Cachaça — Polaina! Tinha até sapateadores no conjunto da Portela. Mas o Maurílio, apesar de favorito e derrotado, gostou muito da minha vitória. A festa acabou lá pelas quatro da manhã e ele falou comigo: “Vamos comemorar no Tuiuti, não vai para a Mangueira, não”. Eu fui. O Tuiuti é aqui do lado da Mangueira e eu sempre gostei muito do Tuiuti, de maneira que fui pra lá. Fomos pra lá e passamos por uma leiteria que havia no Largo da Cancela, cujo dono era diretor do Paraíso do Tuiuti. Ele tinha deixado a leiteria aberta para comemorar a vitoria do Maurílio. Chegamos lá e o Maurílio foi falando: “Quem venceu foi o Carlos Cachaça, mas é a mesma coisa”. Cheguei na Mangueira às nove horas da manhã.

E como e que surgiu o seu apelido de Carlos Cachaça?

Carlos Cachaça — Noutro dia um jornal contou que meu apelido nasceu em Mangueira porque eu pegava uma cana violenta. Realmente, sempre bebi muito, mas meu apelido não nasceu aqui em Mangueiro, não. Havia na antiga Rua Senador Euzébio, na Praça Onze, um tenente do Corpo de Bombeiros chamado Couto. Tenente Couto. Todos os domingos iam pra lá o Cândido das Neves, o Uriel Lourival, o Nonô pianista, o Baiano, que tocava saxofone, um grupo assim. Eu também ia. O Couto tinha três filhas, que todo o mundo queria namorar. Ele era muito folgazão, gostava de cantar, aquela coisa toda. Quase todos os domingos era feijoada com cerveja preta. A cervejaria era ali mesmo na Praça Onze. Toda vez que vinha a cerveja, eu recusava: “Não, obrigado. Eu quero uma cachaça, uma cachacinha”. E no grupo que freqüentava a casa dele, havia três pessoas com o nome de Carlos. Quando eu demorava a chegar ou não ia, o Tenente Couto perguntava: “Cadê o Carlos?” “Está ali”, respondiam. “Não, não é aquele, não. É o da cachaça. O Carlos Cachaça”. E foi assim que fiquei Carlos Cachaça.

O Geralda Pereira chegou a pertencer à Estação Primeira?

Carlos Cachaça — Não, ele foi da Unidos de Mangueira. Acho que só saiu uma vez pela Estação Primeira, a convite do Manoel da Leiteria, representando o Cabo Laurindo.

E o poeta Carlos Cachaça, como foi que surgiu?

Carlos Cachaça — Eu sempre tive mania de escrever versos, de rimar, essas coisas. Algumas vezes, os versos foram musicados, outras vezes, não. O Herminio Belo de Carvalho já quis até publicar um livro com meus poemas. Geralmente, meus poemas foram feitos por causa de um fato real, quase não tem fantasia.

Você ficou ligado à escola de samba até quando?

Carlos Cachaça — 1949, por aí. Não me afastei inteiramente, mas depois de 49 não era como antes. Em 1948, eu e Cartola fizemos o samba-enredo da escola, Vale de São Francisco. Depois, já em 1960, 61, por aí, tentamos incentivar a turma da velha guarda da escola, mas não conseguimos muito coisa. Mas eu acompanho a Mangueira. Torço por ela, quero que ela vença todos os carnavais.

Você se chateia com as modificações que foram introduzidas nas escolas de samba?

Carlos Cachaça — Não, eu gosto delas. Tudo tem que se transformar.

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Comentários

Ahhhh… entendi…
Eu pensei que estavas falando do livro…

Essa conversa tá no livro tmb!

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Artur, a coleção que tenho é de 74 (se não me engano, são 8 volumes e o texto dessa postagem tá no encarte do terceiro disco, sege o link,

http://receitadesamba.blogspot.com/2010/02/historia-das-escolas-de-samba-volumes-3.html

Abraço

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Abraço

Vol.3?
Eu tenho a segunda edição, de 1996.

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