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Especial Paulo da Portela: Parte 4

, Especial Paulo da Portela

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Paulo fez a Portela nascer. Seguindo o exemplo de Paulo, a Portela descobriu sua vocação para a vitória. A separação entre Paulo e a Portela foi como a emancipação de um filho. Foi dolorosa, difícil, mas ambos conseguiram sobreviver. Paulo jamais esqueceu a Portela. A Portela, em cada vitória, lembrava de Paulo. Ambos jamais voltariam a se encontrar, mas, de certa forma, nem precisavam, pois já estavam eternamente marcados e unidos.
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Os acontecimentos de 21 de fevereiro de 1941 ainda permanecem confusos para a maioria dos portelenses que viveram aquele momento. O início do desfile se aproximava. Todos na Portela esperavam ansiosos por Paulo. De repente, o professor chega trajando um terno preto com listas brancas. Estava acompanhado de Cartola e Heitor dos Prazeres, velho conhecido dos antigos portelenses. A alegria, no entanto, é substituída pela perplexidade. Paulo discute com Manuel Bam-Bam-Bam, levanta a corda e vai embora. Antes, porém, vira-se para a bateria de mestre Betinho e faz um sinal, autorizando o início da apresentação, como sempre fizera desde os primeiros desfiles.
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Sem entender por que Paulo abandonara o desfile, os portelenses entraram na avenida com muita garra, cientes de que teriam que vencer mais esta dificuldade. Apesar da grande exibição, que resultaria no terceiro campeonato da escola, os comentários de todos os componentes após o desfile, realizado nos escombros da Praça XI, que começava a desaparecer para ceder lugar à imponente Avenida Presidente Vargas, era apenas um: o desentendimento de Paulo com Manuel Bam-Bam-Bam.
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Com o passar dos anos, os acontecimentos de 1941 tornaram-se mais claros. Segundo Marília T. Barboza e Lígia Santos, biógrafas de Paulo da Portela, o desentendimento foi motivado pela presença de Heitor dos Prazeres, que teve uma séria desavença com os portelenses e deixou a escola após a briga com Antônio Rufino, em 1929. Manuel Bam-Bam-Bam, que na ocasião tomou as dores do amigo Rufino, encontrava o antigo desafeto 11 anos depois, e pronto para desfilar pela Portela.
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Manuel Bam-Bam-Bam quis fazer valer uma determinação do próprio Paulo, e disse que eles só poderiam desfilar se estivessem vestindo roupas azuis. O valentão da Portela, como Manuel Bam-Bam-Bam era conhecido, ainda abriu uma exceção para Paulo, dizendo: “O senhor pode desfilar com qualquer roupa, eles não, só de azul”.
Paulo, solidário com os amigos do “conjunto carioca”, que, voltando de um show em São Paulo, decidiram que os três iriam desfilar juntos na Portela, na Mangueira e na De Mim Ninguém se Lembra, respectivamente as escolas de Paulo, Cartola e Heitor, não poderia admitir a imposição de Manuel Bam-Bam-Bam, e também abandonou o desfile da sua Portela. Paulo não deixou os amigos Heitor e Cartola. Manteve-se fiel aos princípios que achava justos, mesmo que tivesse que brigar com a sua Portela.
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Na casa de Cartola, no morro da Mangueira, Paulo afogava as mágoas com os amigos. Somente após o resultado final Paulo retornou para a Portela, acompanhado de Cartola, Carlos Cachaça e de Chico Porrão, o valente da Mangueira. O clima era tenso. Enquanto o sempre educado Cartola procurava contornar a situação, Manuel Bam-Bam-Bam disse a frase que afastaria para sempre Paulo de sua escola do coração: “Nós não queremos mais esse moleque aqui”.
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Ainda acompanhando o raciocínio de Marília T. Barboza e Lígia Santos, a posição de Manuel Bam-Bam-Bam, que por uma questão de justiça devemos dizer que era também o ponto de vista da grande maioria dos portelenses, era a de que Paulo deveria escolher se ficaria com a Portela ou com Heitor. Ao se solidarizar com Heitor, ignorando os antigos problemas entre a Portela e o famoso compositor, Paulo havia deixado claro que ficaria ao lado do amigo, consequentemente traindo a confiança dos portelenses.
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Quem tinha razão? A briga poderia ser evitada? Fica difícil chegarmos a uma conclusão 60 anos depois. Paulo jamais voltaria para a Portela. Quando havia decidido esquecer as brigas e fazer o que seu coração mandava, sua saúde não permitiu. Durante seu velório, sua esposa Maria Elisa impediu, mesmo com os pedidos de Natal, que a bandeira da Portela fosse colocada sobre o caixão. Na memória dos antigos portelenses, ficou marcada a frase proferida por Paulo após ser chamado de moleque por Manuel Bam-Bam- Bam: “Senhores, senhoras e crianças da Portela, vós sois uns ursos”.

Fonte: Portela Web
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