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Terreiro

, Escolas de Samba

 Inicio aqui no Receita uma série de cinco postagens chamada “Terreiro”. Terreiro, simples assim. O samba, na minha opinião, em sua mais bela forma de expressão, feito sem pretensões comerciais, com o coração. Para homenagear a Escola, pra falar de amor, dor de cotovelo, lembrar uma história engraçada em forma de versos…

Antigamente era assim, acredite… Na época das primeiras Escolas de Samba não havia o samba enredo. Desfilava-se cantando os chamados “sambas de primeira” que tinham apenas uma primeira estrofe. Essa primeira parte era cantada em coro pela escola e os gogós mais potentes da escola, os versadores, intercalavam versos improvisados entre as repetições da primeira parte. Esses sambas não eram compostos exclusivamente para o carnaval, tão pouco com pretensões comerciais. Eram sambas compostos pelos sambistas de cada escola durante todo o ano. Compunha-se um novo samba e este era prontamente apresentado aos companheiros no terreiro da escola. Ali, no terreiro, ou o samba emplacava, era sucesso ou caía no esquecimento, caso não agradasse. E, sendo sucesso, provavelmente entrava para o repertório do desfile de carnaval. No início o samba não tinha sequer o mesmo tema do desfile, ou seja não apresentava o enredo do desfile.

Com o surgimento do samba enredo, esse samba feito nos terreiros passou a ser executado apenas nas rodas de samba, que continuavam acontecendo quase sempre nos terreiros das Escolas e durante o “esquenta” para o desfile. Os “Sambas de Terreiro” passavam então a ser conhecidos também como “sambas de meio de ano”.

Justamente por esse caráter restrito, muitos sambas de terreiro se perderam com o tempo. Ficaram  pra trás, na memória de sambistas que já se foram. Mas sobrou muita coisa, felizmente. Muitos foram gravados durante os anos 50 e 60, alguns até na era do rádio. Outros tantos ainda estão fresquinhos na memória de compositores como Monarco, Nélson Sargento que relembram com detalhes canções inéditas de seus parceiros.

Com o tempo, o terreiro se foi, deu lugar à quadra. Sai o chão batido, entra o cimento. A partir dos anos 70 as escolas começam a se transformar no que são hoje, uma industria milionária, armada para o consumo de uma classe que há poucas décadas sequer imaginava o que era samba, que chamava a cuíca e o surdo de instrumentos bizarros… Sai o sambista, entram os interesses. As escolas são tomadas por estranhos (como aconteceu com a Deixa Falar ainda no início dos anos 30, porém com um desfecho bem diferente…). E com isso o samba de terreiro acaba se tornando uma prática cada vez mais rara, chegando a praticamente desaparecer durante os anos 80.

Seria triste o fim do samba de terreiro se no final da década de 90, alguns agrupamentos de jovens começaram a chamar a atenção, fazendo um “samba diferente”. Os instrumentos não eram o já popular tan tan, ou o banjo, que naquela época já era sinônimo de samba, trazido pelo pessoal do Fundo de Quintal. Era cavaquinho, tamborins pra todo lado, prato e faca, garrafa, agogô, um surdo marcando forte e um repique de anel proporcionando o devido peso. Nem os instrumentos, nem as vozes eram amplificados e todos cantavam em coro sambas praticamente desconhecidos.  O “samba diferente” era na verdade o samba como se fazia antigamente, nos tempos do terreiro. O samba de terreiro voltava com força total. Surgiram agremiações como o Morro das Pedras, Terreiro de Mauá, entre outras que, como vocês verão na úlima postagem dessa série, tiveram um importante papel na preservação da memória do samba de terreiro que hoje se espalha por todos os cantos do Brasil, de botequins a centros culturais.

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Comentários
Stênio

Salve o samba!

Se não fosse o samba quem sabe outro dia seria outro bicho…

Stênio

Salve o samba!

Se não fosse o samba quem sabe outro dia seria outro bicho…

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