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O Surgimento da Primeira Escola de Samba

, A Escola do Samba

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Bide, inventor do surdo e um dos fundadores da Deixa Falar

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“A primeira escola de samba
Nasceu no Estácio de Sá
Eu digo isso e afirmo… e posso provar
Porque existiram naquele tempo
Os professores do lugar
Mano Nilton, Mano Rubens e Edgar…”

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Ao final da década de 20 o grande destaque do carnaval de rua no Rio de Janeiro ainda era o desfile dos Ranchos, Cordões e Blocos carnavalescos. Embalados por marchas ou mesmo o samba, ainda com um tempero forte do maxixe, essas manifestações carnavalescas tiveram obviamente uma forte influência sobre a estrutura dos desfiles das escolas de samba: as alegorias, a divisão em alas, o enredo (não confundir com o samba enredo!), a instrumentação…

O samba ainda não havia rompido suas relações com o maxixe e o estilo “Pelo Telefone” era tido como o modelo de samba, o samba gravado e cantado pelos grandes nomes da época.

Acontece que num canto abençoado do Rio de Janeiro, o bairro do Estácio, uma turma de sambistas estava fazendo algo diferente daquele samba de Donga, Sinhô e Cia… Uma levada diferente que deu uma nova roupagem ao samba…
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O compositor Bucy Moreira, neto do Tia Ciata, conta que ouviu esse tipo de samba pela primeira vez em 1923, quando ao sair pra compra pão a pedido de sua mãe, topou com Mano Rubem e Mano Edgar cantando um samba coi mais dois ou três malandros…
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Ao chegar mais perto, não resistiu e indagou: “o que é isso? ” ao que Edgar respondeu: “é um samba moderno que o Rubem fez”, e seguiram cantando alguns versos de improviso…
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Esse video do Ismael Silva resume bem toda essa história (e ainda leva de brinde o Roberto Ribeiro cantando)
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O Café Apolo e o Café do Compadre, doi botequins do Estácio era o ponto de encontro dessa turma. Lá se encontravam Rubem Barcelos e seu irmão Bide, Ismael Silva, Baiaco, Brancura, Nilton Bastos, Mano Edgar, entre outros bambas…
Nilton Bastos

O café Apolo foi palco das primeiras reuniões para a criação da Escola de Samba Deixa Falar, que já não contava mais com a presença do Mano Rubem, que faleceu em 1927, com apenas 23 anos. As cores escolhidas foram o vermelho e branco, em homenagem ao bloco União Faz a Força fundado por Mano Rubem Barcelos e também uma referência às cores do América Futebol Clube. O nome Deixa Falar, como explicado pelo Ismael no vídeo acima era uma resposta aos que achavam que a turma do Estácio não entendia de samba.

Foi a Deixa Falar a primeira escola a desfilar com surdos e tamborins, alterando o andamento do samba com a introdução da síncope, rompendo de vez com o maxixe. Aliás foi o Alcebíades Barcelos, o Bide, quem inventou o surdo, usando uma grande lata de manteiga, como ele próprio conta no depoimento abaixo:

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Nos anos 20 não se via surdo nas rodas de samba. O compositor portelense Hernani Alvarenga conta que a bateria de sua escola, quando ainda era a Vai Como Pode, saia com cavaquinho, pandeiro, cuíca, mas “surdo nào tinha, foi o pessoal do Estácio que apareceu com o surdo”
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Cartola também se lembra desses tempos: “Quem tinha surdo era o pessoal do Estácio. Depois é que o Silvio Caldas deu um pra gente”.
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Cartola conta ainda que naquela época era comum as trocas de visitas entre as escolas de samba e relembra um samba que fez para receber a turma do Estácio em Mangueira:

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“Muito velho, pobre velho
Vem subindo a ladeira
Com a bengala na mão
É o Estácio, velho Estácio
Vem visitar a Mangueira 
E trazer recordação
Professor chegaste a tempo
Pra dizer nesse momento
Como podemos vencer
Me sinto mais animado
A Mangueira a seus cuidados
Vai ao asfalto descer”
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A Deixa falar nasceu em 1928 e desfilou nos carnavais de 1929 (aquele promovido pelo Zé Espinguela) a 1931, ano em que perdeu dois de seus fundadores e principais compositores: Nilton Bastos morreu de tuberculose e Mano Edgar foi assassinado em uma roda de jogo…
Mano Edgar

Portanto a Deixa Falar nunca chegou a participar dos desfiles oficiais, a partir de 1932, virando rancho carnavalesco, pois seus dirigentes julgavam essa categoria superior às escolas de samba. Participou de um concurso de ranchos e não obteve qualquer classificação. Depois disso a escola enfrentou uma crise em sua diretoria por problemas financeiros e acabou se desfazendo.

A Deixa Falar teve vida curta, mas deixou um lembranças que moldaram as histórias do samba e do carnaval carioca: foi com ela que nasceram as escolas de samba, com ela surgiu a marcação do surdo, o samba carnavalesco… os desfiles nunca mais foram os mesmos!

Teve gente que não gostou. Um dos grandes critico do pessoal do Estácio era o compositor Sinhô, que não pensou duas vezes quando lhe perguntaram em uma entrevista para o Diário Carioca o que ele pensava sobre a evolução do samba:

“A evolução do samba! Francamente, não sei se ao que hora se observa devemos chamar evolução. Reparem bem nas musicas desse ano. Os seus autores querendo introduzir lhes novidades ou embelezá-los, fogem por completo ao ritmo do samba. O samba, meu amigo, tem a sua toada e não pode fugir dela. Os modernistas, porém, escrevem umas coisas muito parecidas com marchas e dizem samba. E lá vem sempre a mesma coisa: Mulher, Mulher, Vou deixar a malandragem… A malandragem eu deixei… Nossa Senhora da Penha… Nosso Senhor do Bomfim… Não fogem disso”

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Bom, Deixa Falar…

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Fontes:
Almanaque do samba, de André Diniz
Disco História das Escolas de samba vol 1. Som Livre

 

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