Dupla Preto e Branco
, 78 rpm
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No início dos anos 30 surgia nos palcos do Rio de Janeiro a Dupla Preto e Branco, formada por Herivelto Martins e Francisco Senna.
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A dupla aparecia como uma grande novidade devido aos arranjos que Herivelto Martins preparava para suas interpretações resultando, segundo o próprio Herivelto, na primeira dupla a cantar em duetos na história do disco, fugindo do esquema de “pergunta e resposta” já utilizado há algum tempo em algumas gravações de Francisco Alves e Mário Reis.
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A dupla atingiria sucesso absoluto culminando com a incorporação da cantora Dalva de Oliveira e o surgimento do Trio de Ouro, um dos conjuntos vocais de maior sucesso da história da musica brasileira e que revelou de vez a genialidade de Herivelto Martins, que além de excelente compositor criava todos os arranjos vocais e ensaiava o Trio até que tudo saísse a seu gosto.
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Tudo começou quando o compositor Herivelto Martins (naquela época nem podia ser chamado de compositor ainda, segundo o próprio Herivelto) foi convidado pelo amigo Príncipe Pretinho – também excelente compositor, já com o nome consagrado na praça àquela época – a assistir a um ensaio do Conjunto Tupy, dirigido por J.B. de Carvalho.
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No ensaio – conta Herivelto – o Principe me deu uma caxeta para tocar. Dei um baile com a caxeta, impressionando J. B. de Carvalho, conhecido macumbeiro na época e com alguns discos de pontos de macumba já gravados. Assim que ele me ouviu, comentou: “Esse menino toca bem”. Diante do elogio do J.B., Prlncipe Pretinho, muitoesperto, emendou: “Ele também canta bem e é compositor, “seu” João. Na verdade eu não era compositor ainda, isto é, não tinha nada na praça. Somente umas coisinhas feitas no interior, mas sem pretensões de me tornar compositor profissional.
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Herivelto conta que, com o passar dos ensaios, procurou convencer J,B. de Carvalho a aproveitar as vozes do grupo: – Ele cantava um negócio e eu sugeria: “Seu João, que tal se a gente cantasse também, depois do senhor, é claro, fazendo um corinho?” – Ele não entendeu bem a proposta e pediu uma demonstração. Foi engraçadissimo, porque o João era desafinado, tinha uma voz muito grave e destoava bastante do grupo. Mas isso era o de menos. Importava que ele estava se rendendo às minhas ideias. Como eu tinha mania de dueto, foi uma barbada convencê-lo a adotar minha proposta para enriquecer o padrão musical do conjunto, que só tinha um saxofone e um banjo no acompanhamento.
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Dos duetos propostas para o Conjunto Tupy, Herivelto passou a ensaiá-los exclusivamente com Francisco Sena, durante os intervalos dos ensaios do próprio Conjunto, em geral na casa de J.B. de Carvalho. Sena havia gravado um disco na RCA Victor, com a música Quem está de ronda, de Principe Pretinho, posteriormente gravada pelo Trio de Ouro.
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De acordo com Herivelto Martins, “a Dupla Preto e Branco nasceu naturalmente como fruto dos duetos que eu e o Sena faziamos nos ensaios do Conjunto Tupy. Havia uma lei que obrigava os cinemas na época a apresentar, no intervalo da uma sessa para outra, um espetáculo com música brasileira”. O compositor relata que o Conjunto Tupy foi se apresentar no Cine Odeon, na Cinelandia, ocasião em que J.B. de Carvalho, “um ignorantão”, durante a audição ficava dando ordens ao gnupo na frente da platéia. Coisas assim: “Olha esse baixo ai está muito forte; o saxofone tem que me obedecer só entra quando eu fizer um sinal. Quem manda aqui sou eu “. Herivelto acentua que essas intervenções grosseiras e em cima do show repercutiam muito mal, como não poderia deixar de ser. O dono do cinema, o empresário Vicente Marzullo, achou aquilo um horror. Nos bastidores, reclamou e perguntou se não havia outro número para oferecer ao público. Chegou pro Herivelto e quis saber detalhes dos duetos que ele organizava com o Sena, de que ouvira falar, e pediu demonstração. Herivelto Martins já havia até composto um samba para cantar com o Sena chamado Preto e Branco, que dizia:
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“Eu sou o branco / eu sou o preto / tu és o preto / tu és o branco / sei que somos amigos leais / preto na cor / branco na alma a natureza não nos fez iguais”.
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Alguém pegou uma caxeta, outro um tamborim, o banjo fez o contraponto e Herivelto e Sena começaram a cantar. Mas o número não ficou apenas no canto, como frisa Herivelto: “Passei a sapatear e o Sena ensaiou uma rasteira contra mim, eu ensaiei outra pra cima dele, pintamos os canecos. Marzullo ficou encantado e decretou a estreia da dupla para a segunda-feira seguinte. Como o número meu e do Sena não tinha nome próprio Marzulo decidiu: Vai se chamar a Dupla do Preto e do Branco!
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A repercussão da Dupla foi imediata. No dia imediato ao da apresentação no Cine Odeon, as noticias e comentários foram generosos para com Herivelto e Sena e a partir dai a Dupla Preto e Branco começou a ganhar espaços. Era o ano de 1933. No ano de 1934 a Dupla gravou seu primeiro disco. Foi na Odeon, tendo de um lado a música Quatro Horas (Herivelto Martins e Francisco Sena) e do outro Preto e Branco (Herivelto Martins).
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Ainda em 1934 a Dupla Preto e Branco gravou mais um disco na Odeon com Vamos soltar balão (Francisco Sena e Herivelto Martins) e Como é Belo (Gastão Viana e Pereira Filho).
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Entretanto a primeira fase da Dupla foi curta. Em 1935 o parceiro Francisco Sena adoece e acaba falecendo. Herivelto sempre teve muito carinho pelo amigo e deplora sua morte prematura, causada provavelmente pela alimentação deficiente que lhe acarretou graves problemas de saúde, penúria e outras dificuldades advindas dos tempos adversos que encarou.
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Herivelto conta um fato interessante ocorrido pouco antes da morte de Francisco Sena: “Um dia, Sena apareceu com bócio. Impossibilitado de trabalhar, ficou em casa acamado, sob tratamento, me obrigando a cancelar compromissos da Dupla e rejeitar novas of ertas para shows. Fiquei, literalmente, em palpos de aranha. Na Rádio Tupy, porém, consegui quebrar o galho, e foi até engraçado” – conta Herivelto. “A Rádio Tupy, inaugurada em 1935 e funcionando em um barracão em Santo Cristo, tinha alguns artistas permanentes, caso da Dupla Preto e Branco. Com o Sena afastado, Falei com o diretor da emissora sobre a sua doença e ele, num gesto nobre, decidiu manter o nosso pagamento até que o meu parceiro se recuperasse”.
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Herivelto ficou agradecido, mas esclareceu que continuaria o número da Dupla assim mesmo, argumentando que no rádio o ouvinte não vê quem está cantando, como hoje acontece na televisão. Chamou então o seu amigo João Soares, careca e branco, e passou a se apresentar com ele na Tupy. Infelizmente, logo depois Sena faleceu e a Dupla se desfez.
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INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA DUPLA PRETO E BRANCO
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Herivelto faz questão de ressaltar que a Dupla Preto e Branco foi um dos os marcos na MPB em matéria de vocalização quando surgiu, inaugurando um novo estilo de cantar. conforme diálogo extraido do livro “Herivelto Martins, Uma Escola de Samba”:
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(Herivelto Martins) – Na época fui considerado génio pela idealização da Dupla Preto e Branco pois ninguém, até então, tinha aparecido fazendo dueto.
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– Mas a dupla Francisco Alves/Mário Réis não foi anterior à Preto e Branco, Herivelto?
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– Foi sim, porém os dois não faziam dueto. Era uma dupla de perguntas e respostas, sem vozes alterando a melodia. O Chico com aquele vozeirão e o Mário com a voz pequenininha. O Chico cantava “Deixa essa mulher chorar” e o Mário se limitava a repetir “Deixa essa mulher chorar”, e assim por diante. Não era dueto. Nem Chico e nem Mário sabiam fazer terças. Já na Dupla Preto e Branco o Sena fazia a melodia e eu as vozes, geralmente as chamadas terças. Não era a mesma coisa com o Chico e o Mário. Depois, no nosso rastro surgiram outras duplas como Castro Barbosa e Jonjoca, Joel e Gaúcho…
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A primeira dupla Preto e Branco durou pouco mais de dois anos, desde sua formação em 1933, até a morte de Francisco Sena, em 1935. Com a morte do parceiro, Herivelto Martins frisa que sua situação profissional na época ficou muito desarticulada, pois a Dupla vinha se firmando e ele sozinho não representava quase nada como cantor.
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A SEGUNDA DUPLA PRETO E BRANCO: NILO CHAGAS
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Nilo Chagas e Herivelto Martins |
Com a morte do parceiro Francisco Sena, Herivelto Martins passou a se empenhar em encontrar um novo cantor com quem pudesse ensaiar seus duetos:
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“Tentei arranjar um substituto para Sena mas não havia nada igual. Assisti a tudo que era espetáculo, porém ninguém me agradava. Sem parceiro para atuar, pintei a cara e fui trabalhar em circos. Ao mesmo tempo procurei a Empresa Paschoal Segreto e me ofereci como ator”.
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-Escolhi o papel de palhaço e criei um tipo que logo se popularizou, sobretudo no meio da garotada, o Zé Catinga. Nos sábados e domingos o teatro lotava para ver o Zé Catinga, principalmente as crianças, um público certo. Foi no Teatro Pátria que apareceu o Nilo Chagas na minha vida. Ele não fazia nada. Eu “inventei”o Nilo, que era uma pessoa inútil.
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Herivelto explica como foi que o Nilo Chagas chegou até ele: “O irmão do Nilo um dia me procurou no teatro para fazer uma sondagem e me disse que o Nilo cantava direitinho e que eu poderia com ele refazer a Dupla Preto e Branco. Realmente, o Nilo cantava bem, mas carregava um defeito: andava curvado para a frente devido uma queimadura que sofrera no lado direito da barriga. A ferida já estava cicatrizada, porém ele adquirira o hábito de andar tombado para a frente com medo da pele arrebentar”.
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Herivelto não se dobrou ao fato, e fez a cabeça de Nilo, convencendo-o de que não tinha mais nada: “Graças aos meus esforços o Nilo mudou de postura, voltando a andar ereto, elegante, assim aparecendo nos palcos. Gravamos o primeiro disco em 1937 com Tamborim (Herivelto Martins e J. Soares) de um lado e do outro, Ultima Festa (Herivelto Martins e Zeca Ivo)”.
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A segunda Dupla Preto e Branco gravou mais quatro discos, até 1938 quando desapareceu de vez, dando lugar ao Trio de Ouro. Mas já em 1937 grava também o primeiro disco com Dalva de Oliveira, iniciando a partir dai o processo de extinção da Dupla e nascimento do Trio de Ouro. Portanto, a dupla Preto e Branco atravessou quase toda a década, sofrendo um breve intervalo entre a morte de Sena e o aparecimento de Nilo Chagas, e desapareceu em 1938, quando gravou o seu último disco.
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DISCOGRAFIA DA DUPLA PRETO E BRANCO
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PRIMEIRA FASE: HERIVELTO MARTINS E FRANCISCO SENA
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Quatro horas (Herivelto Martins e Francisco Sena) 1934
Preto e branco (Herivelto Martins) 1934
Vamos soltar balão (Herivelto Martins e Francisco Sena) 1934
Como é belo (Gastão Viana e Pereira Filho) 1934
Um pouquinho só (Príncipe Pretinho) 1935
Bela morena (Príncipe Pretinho) 1935
Bronzeada (Moisés Friedman e P. Paraguaçu) 1935 (lançada em 1936)
Passado, presente, futuro (Herivelto Martins e Francisco Sena) 1935 (lançada em 1936)
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SEGUNDA FASE: HERIVELTO MARTINS E NILO CHAGAS
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Tamborim (Herivelto Martins e J. Soares) 1937
Última Festa (Herivelto Martins e Zeca Ivo) 1937
Bate Palmas (Príncipe Pretinho e D. Guedes) 1937
Pra galinha descansar (Zé Pretinho e O. Lavado) 1937
Palavra de rei (Príncipe Pretinho) 1938
Maria Sapeca (Herivelto Martins e Sebastião Rodrigues) 1938
Vou me esborrachar (D. Oliveira e F. Martins) 1938
Estou triste com você (Herivelto Martins e D. Oliveira)
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Separei em uma coletânea algumas das gravações que relacionei acima marcadas com *. Infelizmente não consegui encontrar todas.
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A partir de 1937 a Dupla Preto e Branco começa a gravar em companhia da cantora Dalva de Oliveira. Em 1938 a Dupla grava o último disco apenas com os dois cantores. A partir daí os selos dos discos registravam as gravações hora com o nome de “Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco”, hora com o nome de “Trio de Ouro”, que foi adotado definitivamente em 1943, data do último disco lançado com o nome da Dupla Preto e Branco no selo.
Portanto, as gravações abaixo relacionadas, apesar de apresentarem o nome da Dupla Preto e Branco no selo, não foram realizadas em dupla e sim com a formação original do Trio de Ouro, com Herivelto Martins, Nilo Chagas e Dalva de Oliveira, com o nome de “Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco”:
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Itaquari (Príncipe Pretinho) 1937
Ceci e Peri (Príncipe Pretinho) 1937
Iaá baianinha (Humberto Porto) 1938
Batuque no morro (Herivelto Martins, Humberto Porto e Ozon) 1938
Quem mora na lua ((Príncipe Pretinho) 1939
Madalena se zangou (Sinval Silva e Santos) 1939
Negro está sambando (Hervê Cordovil e Humberto Porto) 1939
Alvorada (Príncipe Pretinho e E. J. Moreira) 1939
Deixa a baiana sambar (César Brasil e Manuel Ferreira) 1939
Japonesinha (Herivelto Martins) 1939
África (Castro Barbosa) 1939
Quem é que não chora (Dunga e Castro Barbosa) 1939
Onde Margarida mora (Dunga e Castro Barbosa) 1940
Na Turquia (Príncipe Pretinho) 1940
Pedro, Antônio, João (Benedito Lacerda e Osvaldo Santiago) 1943
Noites de junho (João de Barro e Alberto Ribeiro) 1943
Fonte:
Herivelto Martins: Uma Escola de Samba
Jonas Vieira e Natalício Norberto
Editora Ensaio, 1992
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O bajo era um instrumento muito usado como instrumento de acompanhamento nessa época. Em algumas fotos do grupo do pixinguinha ele aparece…
O bajo era um instrumento muito usado como instrumento de acompanhamento nessa época. Em algumas fotos do grupo do pixinguinha ele aparece…
O bajo era um instrumento muito usado como instrumento de acompanhamento nessa época. Em algumas fotos do grupo do pixinguinha ele aparece…
Muito bacana mas banjo não tinha nessa época, só se for banjo americano.
Muito bacana mas banjo não tinha nessa época, só se for banjo americano.