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Sei que amanhã quando eu morrer / os meus amigos vão dizer / que eu tinha um bom coração / alguns até hão de chorar / e querer me homenagear / fazendo de ouro um violão / mas depois que o tempo passar / sei que ninguém vai se lembrar / que eu fui embora / por isso é que eu penso assim / se alguém quiser fazer por mim / que faça agora / me dê as flores em vida / o carinho, a mão amiga / para aliviar meus ais / depois que eu me chamar saudade / não preciso de vaidade / quero preces e nada mais
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(incluindo sete sambas inéditos)
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Hoje, 28 de outubro, Nélson Cavaquinho completaria seus 100 anos de vida. Ele, que achava que depois de sua morte ninguém mais se lembraria dele, ficaria orgulhoso em descobrir que errou feio quando profetizou seu ostracismo no belo “Quando eu me chamar saudade”. Hoje é lembrado e cultuado como um dos maiores artistas da nossa musica. Seu nome é referência quando se fala de samba, ou melhor, de musica brasileira. Não há quem goste de samba e nunca tenha ouvido clássicos como “A Flor e o Espinho”, “Folhas Secas” “Juízo Final”ou “Pranto de Poeta”. Canções que estão até hoje na boca do povo, na rodas de sambas, nos teatros… Mas sua obra vai muito além. Esses sambas são apenas uma porta de entrada para um universo de melodias e temas únicos. Uma obra vasta, embora pouco conhecida, talvez abafada pelo sucesso estrondoso de algumas poucas canções.
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Além do seu carisma, com sua voz e seu jeito de tocar violão inimitáveis, Nélson tinha sacadas geniais. Falava de tudo, conseguia colocar poesia em qualquer coisa.
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Tinha um senso de humor notável ao falar da morte, como em “Eu e as flores” onde cantou: “Quando eu passo perto das flores quase elas dizem assim, vai que amanhã enfeitaremos o seu fim”. Mas também temia sua hora. A velhice e o fim da vida eram temas recorrentes, sempre com letras dramáticas e cheias de poesia. Dizia que vivia muito perto da fatalidade e por isso sempre recorria a temas como Deus, a morte e claro, a boa e velha dor de cotovelo.
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Nélson Antônio da Silva, nasceu no Rio de Janeiro no dia 28 de outubro de 1911. muitos dizem que a data correta é 29/10, porém o próprio Nélson confirma no depoimento abaixo a data de seu nascimento, contando ainda por que acabou sendo registrado como sendo um ano mais velho:
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Crescido num ambiente bastante musical, Nélson teve uma forte ligação como o choro. Aliás, sua primeira composição foi um choro chamado “Queda” que compôs por volta dos quinze anos, quando ainda tinha que tocar com cavaquinho emprestado pois não tinha dinheiro pra comprar o seu. Certa vez, quando frequentava uma roda de choro no centro do Rio, um português se comoveu com a situação do garoto de deu-lhe de presente seu primeiro cavaquinho.
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Aos vinte anos, casou-se obrigado pelo pai da moça, que o arrastou até a delegacia e acabou indo trabalhar na cavalaria da Polícia Militar. Assim ele ia endireitar… O problema é que ele fazia patrulha no morro da Mangueira. Subia com seu cavalo, o “Vovô”, e lá ficava batendo papo e tomando umas com os malandros do lugar. É claro que essa história não deu muito certo. Ele mesmo conta um dos casos dessa época:
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“Resolvi parar numa tendinha e deixei amarrado na porta o cavalo, (…) fiquei tanto tempo conversando com o Cartola, que quando saí da birosca, cadê o animal? Tinha sumido. Fiquei apavorado. E resolvi, assim mesmo, voltar para o quartel. Não é que quando chego lá dou de cara com o cavalo na estrebaria? O danado parecia que sorria pra mim pela peça que me pregou.” e completa “Eu ia tantas vezes em cana que já estava até me acostumado com o xadrex. Era tranqüilo, ficava lá compondo. Entre as músicas que fiz no xadrex está Entre a Cruz e a Espada “.
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Entre a cruz e a Espada
(Nélson Cavaquinho)
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É claro que a profissão não foi levada muito a sério, muito menos o casamento. No final da década de 30, Nélson da baixa na polícia, deixou a mulher e os filhos, passando a se dedicar de corpo e alma à sua musica e, claro, `boemia desvairada… Contam que certa vez, depois de três dias e três noites na rua, tocando cavaquinho, quando voltou para casa, descobriu que sua mãe havia morrido e fora enterrada dias antes.
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Em 1939 teve seu primeiro samba gravado pelo Alcides Gerardi, “Não faça a vontade a ela”, mas não teve grande sucesso. Começou a ser notado a partir da década de 40, quando sambas teve quatro sambas em parceria com Augusto Garcês gravados pelo Ciro Monteiro: “Apresenta-me Àquela Mulher”, “Não te dói a Consciência”, “Aquele Bilhetinho” e “Rugas”.
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Na década de 50 mudou-se para a Mangueira. Foi nessa época também que conheceu Guilherme de Brito, seu principal parceiro, com quem acabou fazendo um pacto de só fazerem sambas juntos. Juntos fizeram verdadeiras obras primas. O próprio Guilherme conta como conheceu Nélson:
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“Conheci o Nelson Cavaquinho no Café São Jorge. Nelson já era um sucesso. Quando passava de manhã no botequim, estava aquele aglomerado de gente em volta de uma mesa. Às vezes eu voltava de noite, trabalhava o dia inteiro, e lá estava o Nelson com o seu violão. Até que um dia eu me atrevi e cheguei perto dele com a primeira parte de um samba, que foi “Garça”, e falei: “Ô Nelson, vê se você gosta aqui…”. Ele disse que estava ótimo e fez a segunda parte. Dali em diante seguimos até o fim da vida e fizemos um trato de compormos juntos, só eu e ele. Foi muito boa a parceria e fomos leais até o fim da vida dele. Se bem que ele pulou fora duas vezes durante esse período e compôs com outro cara, mas foi muito bom. Se ele estivesse vivo, estaríamos com certeza até hoje ligados um ao outro”.
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Creio que o auge de sua carreira tenha ocorrido nas décadas de 60 e 70. Começou a se apresntar no Zicartola no início dos anos 60, tornando-se cada vez mais conhecido no meio musical. No ano de 1966 a cantora Thelma soares gravou um disco inteiro com canções de Nélson, com arranjos de Radamés Gnattali, onde Nélson participou cantando três sambas. Em 1968 participou do disco “Fala Mangueira” ao lado de Cartola, Carlos Cachaça, Clementina de Jesus e Odete Amaral. Um belo registro em homenagem à Estação Primeira.
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Nos anos 70 gravou seu primeiro LP (vejam vocês, mesmo antes de lançar o próprio disco, outros intérpretes já lançavam discos inteiros com suas canções), chamado “Depoimento do Poeta”, onde foi registrado também um depoimento de Nélson a Sérgio Cabral. Em seguida vieram mais dois discos: “Série Documento” de 1972 e “Nélson Cavaquinho” de 1973. Além disso, Nélson Cavaquinho foi gravado por inúmeros intérpretes.
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Nélson sempre foi um amante da farra, da bebida, do cigarro e das mulheres. Não fosse assim não seria o Nélson Cavaquinho. Sem a boemia, sem o amor, suas letras não seria as mesmas. Faleceu em fevereiro de 1986, com problemas no pulmão… Que ele descanse em paz e que sua obra continue viva eternamente em nossos corações! Continuamos dando-lhe flores e nunca vamos nos esquecer e deixar de lamentar que foste embora!
Se eu for pensar muito na vida morro cedo, amor…
Nélson Cavaquinho
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OBRA COMPLETA* PARA DOWNLOAD
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Mais uma vez o Receita de Samba recebe a valorosa contribuição do amigo Sérgio Moraleida, grande colecionador de brasas aqui de BH. Há tempos ele me passou um DVD com tudo o que ele conseguiu juntar do Nélson Cavaquinho. Mais de um giga de sambas, tudo organizado, com informações sobre compositores, intérpretes… Quando ele me passou falando em “obra completa gravada” achei meio pretensioso, mas fui ver e realmente é difícil achar uma gravação que não se encontre nos arquivos dele. Brasa Sérgio!
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Desse acervo enorme, ouvi tudo e escolhi uma gravação de cada samba, sempre que possível com a voz do próprio Nélson. Consegui encontrar ainda mais umas duas ou três gravações que, talvez por descuido na hora de me passar os arquivos, não encontrei no acervo do Sérgio. Digitei as letras em um encarte em PDF e tá aí pra vocês essa brasa: 122 sambas do mestre Nélson Cavaquinho.
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Além disso, em um certo “Baú Mágico” encontrei mais sete sambas inéditos do Nélson (alguns sem nome) e que trancrevo apenas as letras no encarte em pdf. Por questões éticas decidi por não colocar os áudios, que são gravações caseiras gentilmente cedidas por um amigo.
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* Todos sabemos que a obra do mestre vai muito além desses 122 sambas, mas é praticamente impossível reunir toda sua obra. Existem canções que foram vendidas e registradas em nomes de outros autores, obras inéditas e ainda aquelas que se perderam para sempre, sem nenhum registro. Acredito porém, que essa seja praticamente a obra registrada em áudio disponível até a data de hoje. Com certeza o Sérgio gastou um bom tempo vasculhando os quatro cantos atrás de brasas do Nélson e eu também passei alguns meses procurando.
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(incluindo sete sambas inéditos)
Esse é um trabalho imprescindível para disseminação e consolidação do nosso samba !
Meus sinceros e honrosos parabéns !
Esse é um trabalho imprescindível para disseminação e consolidação do nosso samba !
Meus sinceros e honrosos parabéns !
Muito obrigado pelo belo trabalho que vocês estão fazendo. Site maravilhoso.
Valeu, tava procurando essa pérola.
Como troca, tá aí minha contribuição pra vocês:
Documentário Nelson Cavaquinho
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=V91QvAqeAEo
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Documentário Nelson Cavaquinho
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maravilhoso cara, vcs tão fazendo uma coisa linda.
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Valeu mesmo, hein?
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Maravilhosa postagem! Obrigado pela maravilha.
Caso tenha mais informações do nosso grande Nelson Cavaquinho, por favor me envie no email: andradedf10@yahoo.com.br
(Alisson)
Forte abraço!
Maravilhosa postagem! Obrigado pela maravilha.
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(Alisson)
Forte abraço!
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(Alisson)
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