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A "Trilogia do Alumbramento" de Paulo César Pinheiro e João Nogueira

, João Nogueira

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Muitos já ouviram falar da “Trilogia do Alumbramento”, uma série de canções de Paulo César Pinheiro em parceria com João Nogueira.

Poucos sabem, porém, é que essa obra de mestres surgiu por causa de uma discussão durante uma gravação dentro de um estúdio da Odeon.

Na época a gravadora possuía uma infraestrutura invejável, coisa de primeiro mundo e que foi inaugurada com pompas e circunstâncias pelo príncipe Charles, que veio da Inglaterra especialmente para a ocasião.

Um dos diretores, um polonês bastante antipático implicou com um maestro que deixou cair no chão a cinza do cigarro. Quando o diretor já ia ensaiando um sermão

– “você faz isso na sua casa? “

O maestro, já sem paciência, respondeu prontamente:

-“Claro que não… Lá em casa tem um monte de cinzeiros espalhados por todo o canto. Isso aqui não é o palácio da rainha. A gente tá no Brasil e eu estou trabalhando, me dá licença”.

E enquanto o diretor se desconcertava, Paulo César Pinheiro assistia a tudo e começou a pensar que todo aquele luxo com que o diretor se preocupava iria acabar um dia, os nomes dos figurões e do príncipe inglês na placa pendurada na parede um dia se apagariam…

O que restaria mesmo, para sempre, eram as musicas que ali estavam sendo gravadas, que aquela discussão era uma bobagem…

E com essa ideia na cabeça, Paulo César Pinheiro começou a esboçar um de seus mais belos sambas, que recebeu o nome de Súplica:

O corpo a morte leva
A voz some na brisa
A dor sobe pras trevas
O nome a obra imortaliza

A morte benze o espírito
A brisa traz a música
Que na vida é sempre a luz mais forte
Ilumina a gente além da morte

Mostrou essa primeira parte ao amigo e parceiro João Nogueira  que emendou sem pestanejar a melodia da segunda parte, em seguida letrada por Paulo:

Venha a mim, ó música
Vem no ar
Ouve de onde estás a minha súplica
Que eu bem sei talvez não seja a única

Venha a mim, ó música
Vem secar do povo as lágrimas
Que todos já sofrem demais
E ajuda o mundo a viver em paz

Era um pedido, uma prece aos deuses da música para que jamais lhe faltasse inspiração. E os deuses o atenderam! Não satisfeito, começou a rabiscar uma letra em cima de uma nova melodia que lhe veio à cabeça, pensando exatamente em uma sequência para sua Súplica:

Não, ninguém faz samba só porque prefere
Força nenhuma no mundo interfere
Sobre o poder da criação

Não, não precisa se estar nem feliz nem aflito
Nem se refugiar em lugar mais bonito
Em busca da inspiração

Não, ela é uma luz que chega de repente
Com a rapidez de uma estrela cadente
Que acende a mente e o coração

Novamente mostrou a musica ao parceiro que emendou uma melodia para que Paulo continuasse a letra:

É faz pensar 
Que existe uma força maior que nos guia
Que está no ar
Bem no meio da noite ou no claro do dia
Chega a nos angustiar
E o poeta se deixa levar por essa magia
E o verso vem vindo e vem vindo uma melodia
E o povo começa a cantar

Nascia “O Poder da Criação” um dos sambas mais bem sucedidos da dupla.

Mas ainda faltava algo. A primeira canção era uma prece para que o dom de compor nunca lhe faltasse.

A segunda uma tentativa de explicar como a musica, seus versos e melodias surgem, de repente, na alma do compositor.

Faltava falar dos porta vozes, os cantores, que levam ao povo a mensagem dos deuses da musica traduzidas pela sensibilidade do compositor.

Os cantores, com suas vozes inesquecíveis tinham a divina missão de eternizar os versos dos poetas.

Pensando neles, Paulo César tirou da gaveta os versos guardados há tempos.

Quando eu canto
É para aliviar meu pranto
E o pranto de quem já tanto sofreu
Quando eu canto
Estou sentindo a luz de um santo
Estou ajoelhando aos pés de Deus

Canto para anunciar o dia
Canto para amenizar a noite
Canto pra denunciar o açoite
Canto também contra a tirania
Canto porque numa melodia
Acendo no coração do povo
A esperança de um mundo novo
E a luta para se viver em paz!

Do poder da criação
Sou continuação e quero agradecer
Foi ouvida minha súplica
Mensageiro sou da música

O meu canto é uma missão
Tem força de oração
E eu cumpro o meu dever
Aos que vivem a chorar
Eu vivo pra cantar e canto pra viver

Quando eu canto, a morte me percorre
E eu solto um canto da garganta
Que a cigarra quando canta morre
E a madeira quando morre, canta!

Estava pronto o arremate da obra. “Minha Missão”, a canção que exaltava a importância dos cantores foi gravada por Clara Nunes, uma das mais competentes encarregadas da missão divina de levar a musica e sua poesia aos ouvidos do povo.

Fonte: Livro “História das Minhas Canções” – Paulo César Pinheiro
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Comentários

Um dos maiores genios da musica, mestre PC Pinheiro obrigado

Um dos maiores genios da musica, mestre PC Pinheiro obrigado

Linda história!

abs,
Léo Brito

Linda história!

abs,
Léo Brito

Linda história!

abs,
Léo Brito

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