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Terreiro: O Peso do Salgueiro

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Durante o final dos anos 20 o samba começava a tomar conta da Praça Onze, idealizado pelo pessoal do Estácio que acabava de criar a primeira escola de samba. Reuniam-se os malandros na Balança atrás da Escola Benjamin Constant e as rodas de batucada iam até o raiar do dia, ou até quando a polícia chegasse e acabasse com a farra.

Enquanto isso, lá para os lados da Tijuca, os barracões e tendinhas começavam a se espalhar pelo Morro do Salgueiro. Ao mesmo tempo que iam erguendo seus barracos, os primeiros moradores davam nomes às localidades do morro: Sossego, Campo, Pedacinho do Céu, Canto do Vovô, Caminho Largo, Trapicheiro, Portugal Pequeno, Sempre Tem, Anjo da Guarda, Terreirão, Grota, Rua Cinco, Carvalho da Cruz… A vida começou a se organizar em torno das tendinhas e vendas − de Ana Bororó, Neca da Baiana, Casemiro Calça Larga, Anacleto Português −, dos grêmios − o Grêmio Recreativo Cultivista Dominó, o Grêmio Recreativo Sport Club Azul e Branco e o Cabaré do Calça Larga −, e da religiosidade − no Cruzeiro, no terreiro de Seu Oscar Monteiro, na Tenda Espírita Divino Espírito Santo, de Paulino de Oliveira…

Atentos às novidades, iam aos poucos tomando contato com o samba que surgia lá na cidade, na região do Estácio. Logo começaram a aparecer no morro do Salgueiro os primeiros blocos e agrupamentos carnavalescos: Flor dos Camiseiros, Capricho do Salgueiro, Príncipe da Floresta, Unidos da Grota, Terreiro Grande. Todos com um grande número de componentes que desciam do morro para brincar na Praça Saenz Peña e nas famosas batalhas de confete da Rua Dona Zulmira, onde o Salgueiro era respeitado pelo talento de seus compositores e mostrava a todos que já era uma verdadeira academia de samba. Esses blocos formaram a base das que viriam a ser as três principais escolas de samba do Morro do Salgueiro.

O sambista Antenor Gargalhada, um dos maiores nomes do Salgueiro, fundou junto com outros dissidentes do Bloco Terreiro Grande a Escola de Samba Azul e Branco. A Azul e Branco teve como figuras principais, além de Antenor Gargalhada, o português Eduardo Teixeira, e o italiano Paolino Santoro, o Italianinho do Salgueiro. A ala de baianas da escola era uma das maiores da cidade e abrigava personagens como as jovens Maria Romana, Neném do Buzunga, Zezé e Doninha.

Já os que ficaram no Terreiro Grande se organizaram com o pessoal do Capricho do Salgueiro e fundaram a Escola de Samba Unidos do Salgueiro, sob o comando de Casemiro Calça Larga e portando as cores azul e rosa. Mais tarde surgiria ainda a Depois Eu Digo, que tinha em sua bandeira as cores verde e branco e contava com nomes como Pedro Ceciliano, o Peru, Paulino de Oliveira e Mané Macaco.

Nas três escolas iam surgindo talentosos compositores, como Geraldo Babão, Guará, Iracy Serra, Noel Rosa de Oliveira, Duduca, Geraldo, Abelardo, Bala, Anescarzinho, Antenor Gargalhada e Djalma Sabiá. Foram os versos e melodias inspiradas deses grandes sambistas que fizeram com que o Salgueiro passasse a ser respeitado por todas as demais escolas de samba.

Mesmo com a qualidade de seus compositores, o Salgueiro, com suas três escolas, não conseguia ameaçar o predomínio das maiores escolas de então – Mangueira, Portela e Império Serrano. Os sambistas de outros morros respeitavam os salgueirenses e citavam seus compositores, passistas e batuqueiros como o que havia de melhor no mundo samba. Mas, nos desfiles da Praça XI … nada acontecia.

Foi então que em 1953, após mais um carnaval sem grandes resultados, a Azul e Branco e a Depois Eu Digo juntaram suas forças, unindo-se em uma só escola, a Acadêmicos do Salgueiro, que segue até hoje como uma das grandes escolas do carnaval carioca. A Unidos do Salgueiro foi contra a união das escolas e com o tempo desapareceu. Muitos de seus integrantes foram para a Acadêmicos do Salgueiro.

Mas o assunto hoje não é carnaval e sim, o que acontecia na escola depois do carnaval… O assunto é o Terreiro.

Como já foi dito acima, o Salgueiro é reduto de alguns dos mais importantes nomes do samba. De Antenor Gargalhada a Geraldo Babão o terreiro do Salgueiro, com seus grandes mestres, nos deixou sambas antológicos e uma maneira toda especial de se tocar samba. O Salgueiro tinha uma batucada pra frente, pesada.

Bom, pra falar sobre o samba do Salgueiro, creio que a melhor maneira seja apresentando alguns discos e gravações que representem fielmente o modo de se fazer samba do Salgueiro antigo…Com vocês, o peso da batucada dos Acadêmicos do Salgueiro e as primorosas melodias de Éden e Anibal Silva, Noel Rosa de Oliveira, Iracy Serra, Geraldo Babão e outros bambas.


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O primeiro disco que quero apresentar foi gravado em 1957 e se chama “Aí Vem o Samba”. Um disco forte, só com composições de um dos sambistas que mais gosto: É den Silva, o Caxiné.

Abrindo o disco, temos o “Ensaio de Rítmo n.1”. Batucada forte, gravada pela bateria da escola. Surdos, caixas, tamborins, agogôs dão a dica que o que vem nas próximas faixas é de se arrepiar. E ouçam que cadência! Se não me engano é um disco gravado sem intrumentos de cordas, apenas percursão e alguns intrumentos de sopro conduzindo a harmonia em alguns momentos.Sem firulas, é a Escola em sua essência.

Em seguida desfilam verdadeiras obras primas de compositores consagrados no morro do Salgueiro, embora ainda hoje, poucos sejam conhecidos pelo grande público, ou mesmo pelos próprios salgueirenses.

A primeira faixa é “Assim não é amor”. Samba do início dos anos 50 assinado por Éden Silva, o Caxiné, em parceria com Geraldo Jacques e Nilo Moreira. Na sequência vem “Falam de Mim” samba antigo do Salgueiro com a marca de três de seus maiores compositores: os irmãos Éden e Aníbal Silva e Noel Rosa de Oliveira.E seguem-se as brasas. Todas de autoria de Éden Silva e seus diversos parceiros: Waldemar da Silva (Não Tenho Alegria), Oldemar Magalhães (Obra de Deus) e o irmão Aníbal Silva (Desperta Vila Isabel, Rosa Maria, Felicidade é uma quimera).

Atenção à faixa 5, “Esquentando a Cuíca”. Um verdadeira aula… Aliás, todo o disco é uma verdadeira aula de samba, de tradição, melodias lindas. Segura que “Aí Vem o Samba”!


Também de 1957, temos o ótimo “Samba! Com a Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro”. Mais um disco em que se destacam os versos e melodias de Caxiné, que assina 5, das oito faixas. Nesse disco já aparecem alguns sambas enredo, que apesar de não serem o foco do assunto, não posso deixar de citar pela riqueza dos versos e melodias, como também pela maneira com que o samba era conduzido, com calma, devagar, bem diferente do que se vê hoje. Ouçam a primorosa “Brasil, Fonte das Artes” e saibam do que estou falando.

Nesse disco temoas alguns clássicos do samba de terreiro do Salgueiro. Do Caxiné, “Novo Dia” e o maravilhoso “Tudo é Ilusão”, samba bastante conhecido e que nessa gravação conta com a voz da grande Odete Amaral. Noel Rosa de Oliveira em parceriam com Nilo Moreira nos brindam com Assim Não é legal. Nesse disco, perdido lá no finalzinho, está um dos sambas mais bonitos do Salgueiro: “Momentos” de Nélio Silva, Édson Batista e Djalma Costa.


“Noel Rosa de Oliveira e Escola de Samba”. Esse eu não sei a data de gravação, mas posso assegurar que é um dos melhores discos de samba que já ouvi. A boa e velha batucada do Salgueiro floreada com melodias e versos de compositores praticamente desconhecidos fora do circulo dos mais aficcionados pela história do samba. Como um bom anfitrião, Noel Rosa de Oliveira nos apresenta alguns de seus belos sambas também, sempre com sua voz forte e característica.

Não tenho informações sobre esse disco além dos nomes da musicas e seus compositores. Mas tem uma mulher cantando na faixa 4, “Arataca” que é uma coisa no mínimo sensacional… Detaque também pra faixa 9, “Decisão”, peso puro…

 

E pra fechar com chave de ouro, outra jóia comandada pelo grande Noel Rosa de Oliveira. Em “Lá Vem o Samba”, disco que também não sei a data de gravação, só tem pedrada. Também recheado de compositores menos conhecidos, porém de melodias sem igual, o disco traz algumas brasas do próprio Noel e também o clássico “Solidão” ou “ingrata Solidão” do Geraldo Babão.


Bom, esse é o Salgueiro antigo, uma das escolas mais pesadas do Rio de Janeiro. Espero que esses discos toquem vocês da mesma forma que me tocaram quando os ouvi pela primeira vez. Isso é samba de verdade minha gente…

Comentários

Sua iniciativa é maravilhosa, parabéns, mas ao colocar os arquivos no 4shared você matou a possibilidade dos downloads livres 🙁
Existem outros, como o Mega, por exemplo, que são mais simples para esses procedimentos.
Forte abraço.

Sua iniciativa é maravilhosa, parabéns, mas ao colocar os arquivos no 4shared você matou a possibilidade dos downloads livres 🙁
Existem outros, como o Mega, por exemplo, que são mais simples para esses procedimentos.
Forte abraço.

Enquanto houver alguns pesquisadores preocupados com o que aconteceu com o samba nos anos idos, teremos certeza que o futuro ainda ouvirão coisas boas….parabéns pela iniciativa e quebrem tudo!!!!

Enquanto houver alguns pesquisadores preocupados com o que aconteceu com o samba nos anos idos, teremos certeza que o futuro ainda ouvirão coisas boas….parabéns pela iniciativa e quebrem tudo!!!!

Parabéns pelo ótimo trabalho. Àqueles que procuram ouvir carnaval de "qualidade" tem aqui berço invejável. Muito obrigado por postar estas obras carnavalescas.

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Anônimo

Sensacional! Que venham mais pérolas como essas!

Parabéns pelo ótimo trabalho. Àqueles que procuram ouvir carnaval de "qualidade" tem aqui berço invejável. Muito obrigado por postar estas obras carnavalescas.

Parabéns pelo ótimo trabalho. Àqueles que procuram ouvir carnaval de "qualidade" tem aqui berço invejável. Muito obrigado por postar estas obras carnavalescas.

Caio Badaró

Boa, Terror! Esse é o Salgueiro da minha querida Tijuca. Batucada forte, agogô nas alturas, cuíca venenosa…

OBS.: O disco "La vem Salgueiro" é de 1968.

Caio Badaró

Boa, Terror! Esse é o Salgueiro da minha querida Tijuca. Batucada forte, agogô nas alturas, cuíca venenosa…

OBS.: O disco "La vem Salgueiro" é de 1968.

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